sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Especial Entra Apulso

O outro lado da história
Observando melhor a comunidade Entra Apulso


Por: Valter Andrade.
Fotos por: Válter Andrade e Bruno Rocha



Estreitos becos e pequenas ruas; casinhas construídas de forma irregular sem uma ordem aparente; crianças brincando; mulheres sentadas diante de suas casas a conversar. Um cenário pacífico dentro de um lugar onde quem dirigindo passa próximo, fecha as janelas de seu carro. Embora a grande maioria dos moradores do bairro de Boa Viagem tenha em mente que a comunidade Entra Apulso é uma favela perigosa e violenta, encontramos uma comerciante que não é moradora da comunidade mas prefere manter o seu negócio lá, junto com seu marido, empregando três moradores.

Helena Teixeira, 35 anos, vinda da cidade do Rio de Janeiro, casada, um filho, professora de inglês. O casal, que resolveu mudar-se para Recife fugindo da violência da região carioca, buscou a capital pernambucana porque tinham parentes aqui. Ao chegar, estudaram algum tipo de comércio local para montar na cidade. “Eu fiquei impressionada com a grande demanda por garrafões de água. No Rio existe, mas numa quantidade menor” disse Helena. Ela é o que os moradores chamam de “gente de fora”, mas não com tom agressivo. “Escolhemos vir para a Entra Apulso basicamente por dois fatores: pelo custo de aluguel do ponto comercial e porque percebemos que nas imediações existe uma grande procura por garrafões de água.”




Há pouco mais de três anos com este comércio no mesmo local, ela não tem do que reclamar. Fala que no início ficou um pouco assustada mas hoje convive muito bem com a população local, e desmente problemas ligados à violência, como assaltos dentro da comunidade. “Eles são pessoas como todos, apenas precisam de uma melhor assistência do Estado. Se esta comunidade não fosse tranqüila, eu não viria trabalhar e tampouco traria meu filho que está aqui na frente brincado com outros meninos”, diz.
Ao chegar em Recife ainda lecionou inglês em algumas escolas e cursos e pôde perceber melhor o preconceito que estes moradores sofrem, especialmente quando falou da idéia de se montar o ponto comercial dentro da Entra Apulso. “Foram muitas pessoas que alertavam para ter algum cuidado, isto me assustou um pouco, mas hoje vejo que a realidade é diferente da que me apresentaram”, conclui a comerciante.

Seu Zé
Muito politizado, morador antigo e respeitado seu José Pereira Silva, 62 anos, é casado com Vera Lopes, uma ativa defensora da comunidade. Pereira, que já foi funcionário do shopping Recife e conhece bem a realidade da comunidade. Dona Vera, que chegou ainda criança. “Esta região era toda de mangue, ninguém queria morar aqui, pois ficava distante da avenida principal, e o acesso a pé era muito ruim”, conta Pereira.



A chegada do Shopping Recife foi um marco de luta para a comunidade, uma vez que as grandes empresas do mercado imobiliário usaram de todos os meios para retirar os moradores da Entra Apulso. “Foram diversas lutas, no início contra o próprio shopping. Aos poucos os moradores foram se organizando e contatando outras comunidades até serem beneficiados pelas ZEIS*, aquela lei que nos protege da voracidade das grandes construtoras no bairro da Boa Viagem.”, comenta Pereira.

Embora seu José não seja o representante oficial, goza de uma enorme popularidade entre os moradores, enquanto sua esposa passa boa parte do dia acompanhado projetos e lutas junto à Câmara de Vereadores e à Prefeitura da cidade. Hoje, aposentado, fica o dia todo de prontidão no pequeno comércio que possui numa das entradas da comunidade. “Com o passar dos anos percebemos que havia muita gente interessada nestes terrenos e sempre aparecia e ainda aparece alguém se dizendo ser dono de algum lote aqui. Muitas vezes é mentira; alguém querendo tirar vantagem da ignorância de muitos moradores. Por isso fico aqui o dia todo a espera destes supostos donos”.

Com relação ao grande vizinho Shopping Center Recife, o comerciante aposentado fala com cordialidade. “Hoje, não temos o que reclamar deles. Muitas vezes quando precisamos de alguma ajuda somos bem atendidos pela direção. Quando precisamos de um socorro médico mais urgente o shopping nunca se negou a fornecer uma viatura para apoiar a comunidade. Já houve situação em que faltou água em toda comunidade, aí fomos falar com a gerência do shopping, que liberou uma torneira de abastecimento para nós”.

Pereira também fala que já houve uma ajuda financeira vinda do shopping. “Realmente eles ajudaram por muito tempo os moradores, trazendo cursos de capacitação e urbanizando os acessos que passam por dentro da comunidade, além de uma ajuda financeira mensal que era repassada à associação”. Intrigas dentro da própria associação acabaram gerando um mau uso dessa verba. “O Shopping cortou o repasse financeiro. A atual gestão da associação não atende plenamente a todos”, explica.

Quando questionado sobre o que mais lhe agradava dentro da comunidade, o aposentado disse que o seu maior orgulho estava no Posto de Saúde da Família Jader de Andrade. “Esta era uma antiga luta de todos aqui, e finalmente conseguimos”, comemora. Há três anos o Posto foi reformado. Mas nem tudo é tranqüilidade, afinal, a Entra Apulso sofre pelo descaso das autoridades em relação às comunidades com direitos desrespeitados. Ainda estão pendentes serviços que são básicos a qualquer cidadão brasileiro. Por isso a comunidade registra uma carreira de lutas contra a ganância das grandes construtoras e uma grande batalha com as autoridades municipais e estaduais para conseguir benefícios em prol de sua população discriminada.




Pesquisa revela o medo dos frequentadores do shoping em relação à comunidade
Israel Leal


De acordo com a pesquisa feita no último dia 9 de abril, a maioria dos freqüentadores do Shopping Center Recife sente-se ameaçada pela presença da Entra Apulso. Na ocasião, as pessoas foram questionadas dentro do Shopping sobre o sentimento em relação à comunidade que fica ao lado do estabelecimento.

55% das pessoas entrevistadas sentem-se ameaçadas ou têm medo pela proximidade da Entra Apulso com o Shopping.

35% não acham que a comunidade influencia a criminalidade no local.

Já para 10% a comunidade reforça a segurança no local, já que mais pessoas estão nas ruas.

Diante da pesquisa, um taxista que foi consultado afirmou que para a situação deixar de ser ameaçadora, seria preciso “jogar uma bomba bem no meio desta comunidade”. Ao ser questionado do porquê de toda esta agressividade, o taxista justificou dizendo que vários colegas já tinham sido assaltados ao transitarem pela rua de acesso ao shopping que passa por dentro da comunidade. “Graças a Deus nunca fui assaltado, mas os assaltos são freqüentes. Aqui não tem jeito não. Tem que tirar esta favela daí!”, concluiu, com raiva, o taxista.

Já outras pessoas discordaram. “Moro aqui por perto e venho ao Shopping quase todas as noites. Nunca nem ouvi falar em assaltos na região. Aqui é o melhor lugar do mundo para se morar”, falou outro entrevistado, morador de Boa Viagem.
*O município do Recife reconhece a existência de 66 Zonas Especiais de Interesse Social - ZEIS, disseminadas pelo espaço urbano. Frente à existência de perto de 490 favelas, representando 15% da área total do município e 25% da área ocupada, as ZEIS agregam cerca de 80% delas. Mais informações podem ser conferidas na matéria de Bruno Melo.

4 comentários:

Blog Meio Ambiente e Reciclagem disse...

Eh o entra aoulso e a melhor favela ki existe...

morei nela 7 anos e nunca fui assaltado nem pela sua redodesa....

agora to morando Em salvador em em Menos de 1 ano tetaram me assaltar 7 vezes...

oque vcs dizem???

Anônimo disse...

e otima a favela entra apulso eu moro nela a 12 anos e e otima eu amo ela muito

Anônimo disse...

Hello everyone! I do not know where to begin but hope this place will be useful for me.
Hope to get any help from you if I will have some quesitons.
Thanks and good luck everyone! ;)

Anônimo disse...

Vive tendo assalto nessa favela SIM. O ônibus Aeroporto mudou até de rota, passando agora por dentro do shopping, devido ao grande número de assaltos. Dizer que a favela é calma, e que não tem assaltos constantemente é MUITA hipocrisia

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