terça-feira, 20 de março de 2007

Aumento das Passagens: A manifestação que virou festa!

A Manifestação que virou Festa

E se a passagem não baixar, o Recife vai parar! E a passagem não baixou, o Recife já parou!”. Desde a quinta-feira 17, os estudantes, trabalhadores e simpatizantes do movimento pela queda dos preços das passagens de ônibus no Recife saíram pelas ruas entoando esse canto em um coro desafinado. Os acontecimentos da última semana levaram ao cidadão o medo de ver novamente a cidade parada com a violência e vandalismo que foram matéria de destaque nos principais jornais locais.

Mas nesta quarta-feira (23) foi diferente. Novamente o recife estava parado, mas ao contrário daquilo que se esperava, a causa não era a depredação de veículos e a ação da polícia para tentar controlar a situação. Desta vez o movimento que parou o Recife lembrou muito os antigos movimentos estudantis, onde as passeatas eram gigantescas, ordeiras e com claros objetivos.

Talvez o início do movimento, pela manhã, na Praça do Diário, não tenha empolgado muito os manifestantes presentes, mas a partir das 13:00h aquelas poucas quatrocentas pessoas começaram a se multiplicar e a clamar pela vontade coletiva: a Boa Vista, era o destino desejado.

Ao saírem em passeata até a sede da OAB, ao Palácio do Governo, à Av. Conde da Boa Vista, à sede da EMTU na Av. Agamenon Magalhães, à Secretaria de Desenvolvimento Econômico e por fim à Boa Vista e à Pracinha do Diário, os protestantes pareciam contagiar as pessoas ao redor a tomar posse da causa e a participarem; fosse aplaudindo, fosse gritando palavras de apoio ou fosse marchando pela causa que até agora ainda é muito difícil de ser alcançada. Mas, o povo acredita.

Claro que por causa do medo de uma nova revolta violenta, ainda existia muita desconfiança, principalmente nos comerciantes que fechavam as lojas quando a multidão que atingiu cerca de 7 mil manifestantes passava. Mas, tirando alguns atritos leves que ocorreram próximo ao Palácio Campo das Princesas e na Av. Agamenon Magalhães, os “desordeiros” como foram chamados pela UNE, seguraram sua euforia e se comportaram de forma pacífica. Do mesmo jeito se comportaram os policiais, que mesmos sendo xingados e até levando garrafadas e pedradas, souberam se controlar para evitarem um confronto sem precedentes na história do Recife.

Eram 7 mil que pareciam estar se divertindo enquanto protestavam. Eles cantavam, bebiam, pulavam e dançavam no meio de uma Boa Vista lotada de gente e sem carro algum que não fosse da polícia ou imprensa, ao som de Gabriel - o Pensador e suas músicas com letras que combinavam com aquele momento ali vivido: “... A polícia matou o estudante, disse que era bandido, chamou de traficante. A justiça prendeu o pé-rapado, soltou o deputado e absolveu os PMs de vigário... Até quando você vai ficar levando porrada... Até quando vai ficar sem fazer nada... Até quando vai ser saco de pancada...”. Foi impressionante o modo como eles cantavam num coro afinado e raivoso, que parecia se apresentar especialmente para os PMs ali presentes.

Mesmo quando houve uma pequena divisão do grupo, quando um carro de som que continha o presidente e a vice da UNE, contra a vontade da maioria, ficou parado com um pequeno grupo em frente à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, a euforia dos manifestantes não foi afetada. Já próximo ao seu final, a multidão foi ao delírio quando um manifestante fantasiado de Jesus Cristo subiu no carro de som em frente ao cinema São Luis para agradecer e encorajar a todos a repetirem o ato até que sua luta obtenha a vitória desejada.

Israel Leal

Artigo Publicado em 22 de Novembro de 2005
em www.boivoador.com.

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