terça-feira, 22 de abril de 2008

Pequenos Guardiões

Ratinhos cult de 'Pequenos guardiões' desembarcam no Brasil



À primeira vista, desenhos, temática e o formato quadrado fazem crer que se trata de apenas mais um livro de histórias infantis. Mas basta ler e ver os primeiros quadrinhos de “Os pequenos guardiões”, nova série de HQ que a editora Conrad coloca nas bancas este mês, para perceber que os ratinhos da história não estão para brincadeira.

Desenhada e escrita pelo norte-americano David Petersen, a série “Os pequenos guardiões” (“Mouse guard”, no original) surgiu em 2006, publicada pela independente Archaia Studio Press. Mesmo sem muita divulgação, a HQ caiu nas graças dos leitores americanos e até o final daquele ano teve três reedições apenas do primeiro número.

Com dois arcos de histórias completos até agora (“Outono 1152” e “Inverno 1152”) e um terceiro em andamento, a HQ concorre em julho de 2008 a dois prêmios Eisner, o Oscar dos quadrinhos americanos, nas categorias “melhor reimpressão de álbum gráfico” e “melhor publicação para crianças”. Leia a seguir a entrevista que o autor concedeu ao G1 por e-mail.

G1 - “Os pequenos guardiões” é uma série completamente nova para os leitores brasileiros. Como você apresentaria a sua história a eles?
David Petersen – “Os pequenos guardiões” é uma aventura em quadrinhos medieval que gira em torno de três camundongos da famosa Guarda. Porque os ratos estão tão abaixo na cadeia alimentar, eles constróem suas cidades escondidas e espalhadas uma das outras. Predadores circulam e caçam nos espaços entre elas, então cabe à Guarda oferecer uma escolta segura para os camundongos entre as cidades. Em “Outono de 1152” [nome dado ao primeiro arco de histórias], os três personagens principais, Saxon, Kenzie & Lieam, se deparam com um plano para derrotar a Guarda.

G1 – “Os pequenos guardiões” é uma história de ratos – e há tantos exemplos deles nos quadrinhos e nos desenhos animados: Mickey Mouse, Danger Mouse, Super Mouse, Jerry, Fievel e até o ratinho da animação “Ratatouille”. Quais são as principais diferenças entre esses personagens e os seus?
Petersen – Bom, em muitos desses casos, os ratos fazem o papel de personagens que conseguem superar obstáculos apesar da ordem “natural” das coisas. Eu uso os camundongos da Guarda da mesma maneira. No sentido de que eles perserveram e cavam um lugar para eles próprios n o mundo, ainda que todos estejam tentando detê-los. Mas os ratinhos de “Pequenos guardiões” diferem de muitos desses exemplos por não serem cartunescos. Eu tentei fazê-los o tão verossímil possível quanto camundongos da vida real (tão verossímil quanto camundongos com capas e espadas possam parecer). Acho que quanto mais verdadeiros eles e os cenários parecerem, mais interessado ficará o leitor na história deles. Nós sabemos que Jerry, do desenho “Tom & Jerry” nunca vai se ferir, mas os ratos de “Os pequenos guardiões” estão em constante perigo, e o leitor precisa sentir isso.

G1 – Aliás, o senso comum diz que todo mundo odeia ratos – ou camundongos. Na sua opinião, então, por que eles são tão amados nos desenhos e quadrinhos? Petersen – Creio que camundongos incorporam heróis perfeitamente simpáticos. Por associarmos automaticamente a eles os inimigos naturais maiores, eles se tornam ótimos e improváveis heróis. Contudo, no nosso dia-a-dia, quando um rato está comendo nossa comida e fazendo bagunça, aí já não nos é tão simpático.

G1 – Voltando a “Os pequenos guardiões”, por que você decidiu ambientar a história em um pano de fundo medieval?
Petersen – Penso que o pano de fundo medieval sempre foi um dos meus elementos favoritos. É um modo legal de contar uma história em que o mundo não carece de muitas coisas desnecessárias. É um tempo onde cavalaria e honra significavam muito. Duelos eram feitos com espadas em vez de pistolas, era um lugar interessante para se estar. Me parece mais plausível também que os camundongos pudessem usar ferramentas, armas e estruturas medievais em vez de quaisquer objetos mais modernos.

G1 – Em um post recente em seu blog, você menciona um lugar no campo onde teria sido criado quando criança. Quanto dessas memórias estão refletidas em “Os pequenos guardiões”?
Petersen – Quando criança, vivi em um local urbano na maior parte do tempo, mas o bairro em que eu morava era próximo de um ou dois canais e de uma área de florestas. Com apenas algumas milhas de caminhada, eu poderia estar cercado de vida selvagem e distante das construções mais modernas da cidade. Brincar lá certamente ajudou a forjar minhas idéias sobre aventura. Minha família também viajava nas férias de verão ao redor do estado de Michigan. Então eu podia conhecer os grandes lagos que nos cercavam, as diferentes paisagens, vegetações e animais. Acho que é o conjunto dessas coisas que me informa quando estou trabalhando em “Os pequenos guardiões”.


G1 – Livros de quadrinhos como “Maus”, “Bone” ou mesmo “Fritz de Cat” provaram que o uso de bichos como personagens não implica necessariamente que essas histórias sejam para crianças. E quanto a “Os pequenos guardiões” – que tipo de público você tinha em mente quando criou a série? Queria fazer algo “para todas as idades”?
Petersen – Sempre quis que “Os pequenos guardiões” fosse acessível a todas as pessoas. Isso significa nunca levar a violência a um nível perturbador e de mau gosto, mas também significa não nivelar por baixo o conteúdo tornando-os doces e inocentes. Penso que não damos às crianças crédito suficiente para que elas avancem no entendimento de certos temas. E contanto que eu faça isso de modo não ofensivo, acredito que “Os pequenos guardiões” possa ter apelo para crianças e adultos igualmente.

G1 – Uma das características que mais chama a atenção em “Pequenos guardiões” é a força dos desenhos. Quanto você dedica a esse trabalho e por que acha importante criar uma arte tão vívida e detalhista para a história?
Petersen – Obrigado. Eu dedico muito trabalho à parte visual de “Os pequenos guardiões”. Me vejo como um contador visual de histórias visual, portanto quero realmente me assegurar que tenho as imagens ideais para contá-las. Disse antes que o fato de os camundongos serem verossímeis era importante, e isso vale para o mundo em que eles vivem também. Quero que as casas e cidades pareçam habitadas e que os itens que os ratos carregam sejam usados para a finalidade que foram criados. Às vezes isso envolve pesquisa para ver como as ferramentas se pareciam naquela época (como uma moenda de grãos ou uma fornalha primitiva).

G1 – As duas primeiras séries estão divididas em estações do ano. Isso significa que haverá apenas quatro episódios na história toda ou você pretende dar a esses personagens uma série regular longa e envolvê-los em outros projetos?
Petersen – A minissérie seguinte a “Inverno 1152” será uma história ambientada antes de “Outono de 1152” e cobrirá muitos anos da história dos ratos. Será chamada de “Black axe” [Machado negro, em português] e deve trazer mais informações sobre os personagens. Espero continuar contando as histórias de “Os pequenos guardiões”, então eventulamente vamos vê-los em todas as estações do ano, mas após essa história do inverno, eles vão dar suas voltas por aí.

Clique aqui para ler um trecho da HQ

Fonte: G1

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