segunda-feira, 12 de julho de 2010

Crônicas do Dia-a-Dia: A paciência, ou a falta dela

Paciência. Até tentar escrever esta palavra de apenas nove letras parece ser impossível num momento onde a mente funciona negativamente sem parar, esperando aflitamente pela concretização de um objetivo qualquer.

Náuseas, suor frio, inquietação, cabeça a ponto de explodir... São vários os sintomas da falta de paciência, mais conhecida como impaciência. Até respirar torna-se uma verdadeira tortura nesses momentos.

Definição segundo o Aurélio: Virtude que faz suportar com resignação a maldade, as injúrias, as importunações etc. / Perseverança, constância. / Nome de certo jogo de cartas. // Perder a paciência, começar a não poder mais esperar, suportar ou procurar. // Revestir-se de paciência, esperar com calma.

Experiência...

Estou num grande cubo chamado de sala fechado por paredes de concreto. Existem algumas portas por onde muitas pessoas entram e poucas saem. Eu quero entrar numa dessas portas e concluir meu objetivo, mas ainda não chegou minha hora. Olho o movimento dos ponteiros do relógio, das pernas das pessoas, escuto passos, vozes, buzinas, motores...

Espero minha vez enquanto gotas d’água que saem dos meus poros, escorrem e percorrem meu rosto. Condicionador de ar, ventilador, brisa natural, nada disso existe neste mundo momentâneo.

A respiração está cada vez mais ofegante. Observo mulheres enrolando seus cabelos lisos e cacheados em seus dedos minúsculos e delicados. Como a maioria dos homens não podem tentar se distrair da mesma forma, balançam incessantemente alguma parte de seus corpos. Pessoas conversam, riem, agem como se nada estivesse acontecendo (e será que está?). enquanto isso meu ser entra em estado de agonia.

Não consigo me manter parado. Alguém se aproxima. Está varrendo o chão. A ponta da vassoura tocou meu pé. Penso em violentas atrocidades. Mas permaneço calado. Tenho dúvidas se meus olhos estão da mesma cor castanha que sempre teve, ou estão vermelhos como o carmesim. Não sei a que temperatura está, meu crânio, só sei que está muito quente. A ponto de fumaçar. A ponto de explodir.

Vou descontar toda minha ira em alguém! Giro minha cabeça alguns graus para o lado e percebo uma senhora me observando. Abaixo a cabeça e tento me convencer de que aquilo não está acontecendo. Vigio novamente e lá está ela com seus grandes óculos fundo de garrafa apontados fulminantemente para meu ser, com um forte tom de curiosidade.

Talvez seja a publicação que tento usar como distração. Prontamente me livro de tudo o que tinha em minhas mãos na esperança de me libertar. Mas não adianta. Os grandes óculos continuam me fitando, me observando, me examinando... Maldito Big Brother real!

Nesse momento o desespero já bateu. Me ocorre que nem a cor do céu será mais a mesma quando eu sair desse furdunço, relacionada a quando cheguei.
Quero que isso acabe! Quero que isso acabe! Quero que isso acabe! Quero que isso acabe! Quero que isso acabe! Quero que isso acabe! Quero que isso acabe! Quero que isso acabe! Quero que isso acabe! Quero que isso acabe! Quero que isso acabe! Quero que isso acabe!

Pensamento positivo, contar carneirinhos, óculos fundo de garrafa! Não adianta nada!

Preciso sair, respirar. Acabar de vez com esse estado agonizante. Os grandes óculos. Preciso me livrar deles!

Quando já pensava em desistir de lutar, finalmente eles sairam de mim. Mas era melhor que continuassem...

Outra coisa roubou sua atenção. Um gigantesco e insuportável grunhido, denominado choro de criança, chamou sua atenção. Para a senhora, um novo alvo. Para mim um novo sofrimento.

Parece meu fim! O mundo deve estar se acabando! Meu Deus! Tem misericórdia de mim! Não agüento mais! Não posso suportar tudo isso!
Tentando recuperar um pouco de fôlego e fugindo um pouco do terrível convívio com aqueles seres, vou ao banheiro. Abro a torneira e lavo meu rosto. Estou com a cara molhada, pingando em minha roupa e não há toalhas de papel no banheiro... a solução: papel-higiênico!

Vou beber um pouco de H2O, um líquido precioso e essencial para a nossa sobrevivência. Mas não há água no bebedouro! Que agonia, que maldição! Busco uma saída U R G E N T E!

1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10!!! Não agüento mais exercícios mentais, não agüento mais esperar! Não tenho mais paciência!

Quando menos espero, quando as forças pareciam ter acabado, quando eu me encontrei sozinho, meu coração palpita mais rápido causando taquicardia. Vejo um número, sinto um sinal, ouço um nome, o meu nome! Como num passe de mágica ou num estalar de dedos, minha agonia se foi... Sobrevivi!

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