segunda-feira, 18 de junho de 2007


10 Anos sem Chico
Israel Leal

A cultura pernambucana que encanta e leva multidões ao delírio a cada manifestação, ato e pulsação, passou por muitos momentos e transformações. Momentos que nos encheram de alegria e orgulho. Momentos que formaram a identidade do nosso povo.
Este ano, algo no mínimo incoerente nos trouxe um misto de alegria, de tristeza e de saudades; Aos 100 anos do Frevo, uma de nossas maiores criações, lembramos os 10 anos da morte de um dos nossos maiores criadores; Chico Science.Definitivamente o ano de 1997 foi onde este misto de alegria e de tristeza mais esteve presente em nossas vidas.
Em 2 de fevereiro, em pleno carnaval, nossa maior festa popular, onde o ancião Frevo que completava 90 anos e o mui jovem Mangue Beat entrariam mais uma vez em sintonia para alegrar a vida de quem queria celebrar a mesma, perdemos um grande irmão nos quesitos, originalidade, autenticidade e principalmente pernambucanidade.
Dez anos depois, os ritmos de nossa terra vêm a cada dia se firmando na identidade cultural de Pernambuco. Completando 100 anos, o frevo deixa de ser “apenas” um rítimo dançante para se tornar patrimônio imaterial. E dez anos após a partida de Chico, o Mangue continua vivo ao mesmo tempo em que vai sendo difundido Brasil a fora.


“Como um pássaro o tempo voa. A procura do exato momento. Onde o que você pode fazer fosse agora. Com as roupas sujas de lama. Porque o barro arrudeia o mundo. E a TV não tem olhos pra ver. Eu sou como aquele boneco. Que apareceu no dia na fogueira. E controla seu próprio satélite. Andando por cima da terra. Conquistando o seu próprio espaço. É onde você pode estar agora.” (Um Satélite na Cabeça - CSNZ).


CHICO E O MANGUE

1987. Francisco de Assis França cria a desconhecida banda Orla Obre, inovando com as influencias da musica negra americana que era cultuada pela Legião Hip Hop, grupo que fazia parte à três anos. Anos depois, com Lúcio Maia e Alexandre Dengue foi formada a banda Loustral, que trouxe o Rock sem abandonar a black music e o Hip Hop.
Tudo isso parecia apenas um sonho ou uma forma de entretenimento para um jovem apaixonado por música. Mas ao contrário dos jovens comuns, que deixam suas paixões frente à necessidade e à pressão da sociedade, Francisco ousou.
O grande diferencial dele foi ter misturado em 1991, quando já era conhecido como Chico Science, o batuque do maracatu e o côco de roda a todas as influencias que já eram presentes em sua musicalidade. É claro Chico, ao ouvir o batuque do bloco Lamento Negro e decidir incorporar aquele rítimo em seu som, não tinha a consciência de que dimensões aquela harmonia recém criada e batizada por ele como Mangue Bit, iria alcançar.
A Orla Nobre e a Loustral ficaram para trás, em junho de 1991, a banda que atendia agora por Chico Science e a Nação Zumbi (CSNZ) fez o seu primeiro show. No espaço Oásis em Olinda, a revolução da música pop pernambucana começava. Chico havia acertado.
Várias outras bandas começaram a surgir e a seguir o mesmo estilo inovador de CSZN. Muitos shows foram realizados com outros grupos da região metropolitana de Recife como o Mundo Livre S/A. Neste momento os jornais locais já estavam antenados neste movimento que tão rapidamente conquistava o povo.
Mesmo fracassando no manifesto “Caranguejo com Cérebro” que fora escrito por integrantes do movimento, bastou algumas bandas se apresentarem três vezes em São Paulo e Belo Horizonte para chamar a atenção do público e das gravadoras.
Em 1994, “Da Lama ao Caos” arrancou elogios dos principais críticos de música do Brasil e levou o público ao delírio. A partir daí, o mundo conhecia a força do mangue. A confirmação do sucesso viria dois anos depois com o lançamento do álbum Afrociberdelia.
Mas aí... Aí veio o ano de 1997... Um ano que, se fosse possível, certamente seria deletado da história. Seria pulado e ninguém sentiria falta...Chico se foi naquele ano. As 33 anos, deixou no ar a dúvida sobre a continuidade do movimento ao bater seu carro num poste no Complexo Salgadinho entre Olinda e Recife suas duas cidades tão amadas e que tanto o amavam.Ao baixar da “poeira da tristeza”, o mangue, que perdia seu “pai”, se recuperou lentamente, mas sempre se guiando na imagem de um inovador chamado Chico Science.


Para homenagear Chico Science, a prefeitura de Olinda promoveu várias atividades no dia 13 de Abril (quando o cantor completaria 41 anos), como oficinas de grafitagem, workshop de DJs, além de debate sobre o tema Movimento Mangue e Perspectiva para o Futuro. As ações aconteceram no Nascedouro (antigo matadouro) de Peixinhos, em Olinda e teve a participação direta daquela comunidade.
Chico Science será sempre lembrado não só como um cantor e compositor que abriu novos caminhos para um estilo novo de música pop, rock pernambucano, que revolucionou a estética, sem perder as raízes, mas como um artista que amava a arte e o povo do mangue de Pernambuco e do Brasil.


Texto Publicado na Revista Arte Sensu nº 6 - http://www.adufepe.com.br/artesensu/sensu6/artesensu6-p67.htm

Nenhum comentário:

Related Posts with Thumbnails